“Chamaram-me escritor do mar, dos trópicos, escritor descritivo, romântico e realista. Toda a minha preocupação foi chegar ao valor ideal das coisas, dos acontecimentos, dos seres. Os aspectos irônicos, patéticos, apaixonados, vieram deles mesmos; mas, na verdade, são os valores ideais dos fatos e dos gestos humanos que impuseram à minha atividade artística.”
Joseph Conrad. “Lord Jim”. São Paulo: Abril Cultural, 1982, pg. 3
Arquivo mensal: maio 2017
Darcy Ribeiro
“Brasília me devolve aos mairuns, aos nossos mitos de criação. Eles situam aqui o que há de mais sinistro. Brasília é o mundo mairum que se transfigura. O pior do nosso mundo aqui se converte. Floresce? Esta região das nascentes do Iparaña para nós é uma espécie de inferno, é a boca do mundo subterrâneo: morada de Mairahú. Aqui só viveram enormes cachorros negros de bocarras gigantescas: os guardiões da morada da Maíra-Monan, meu Deus-Pai, ingênuo, feroz, caprichoso. Assusta pensar que justamente a morada de Maíra- Monan é, agora, o umbigo do Brasil. Qualquer mairum, desaconselharia construir aqui a capital nova. Para nós, tudo de bom deve existir lá para foz do Iparaña, onde esta o Inimaraer, as terra sem mares, nosso paraíso perdido: o reino prometido dos desesperados sem remédio.”
Darcy Ribeiro. “Maíra”. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, pg. 132.
Antônio Cândido
“Todos sabem que nas tentativas de reforma social cerceadas pelo golpe de 1964 participaram antigos integralistas identificados às melhores posições do momento.”
Antônio Cândido in Holanda, Sérgio Buarque. “Raízes do Brasil”. Jose Olympio, pg. XIII.
Herbert Marcuse
“O homem animal converte-se em ser humano somente através de uma transformação fundamental da sua natureza, afetando não só os anseios instintivos, mas também os ‘valores’ instintivos – isto é, os princípios que governam a consecução dos anseios.”
Herbert Marcuse. “Eros e Civilização”. Rio de Janeiro: Zahar, pg. 34
João Cabral de Melo Neto – O Sertanejo falando
João Cabral de Melo Neto – O Sertanejo falando
1.
A fala a nível do sertanejo engana:
as palavras dele vêm, como rebuçadas
(palavras confeito, pílula), na glace
de uma entonação lisa, de adocicada.
Enquanto que sob ela, dura e endurece
o caroço de pedra, a amêndoa pétrea,
dessa árvore pedrenta (o sertanejo)
incapaz de não se expressar em pedra.
2.
Daí porque o sertanejo fala pouco:
as palavras de pedra ulceram a boca
e no idioma pedra se fala doloroso;
o natural desse idioma fala à força.
Daí também porque ele fala devagar:
tem de pegar as palavras com cuidado,
confeitá-la na língua, rebuçá-las;
pois toma tempo todo esse trabalho.
Héctor Malavé Mata
“A política econômica da monarquia espanhola orientou-se , segundo os ditames do monetarismo e do capitalismo comercial , para o estímulo e fomento das atividades extrativas de ouro e prata em suas possessões do Novo Mundo: os tesouros americanos de Potosí (Alto Peru) e Nova Espanha fluíram regularmente para a Casa de Contratación de Sevilha com resultados que logo reverteram desfavoravelmente para a economia colonial.”
Héctor Malavé Mata. “Reflexões sobre o modo de produção colonial Latino – americano” in Santiago, Théo Araújo. “América Colonial”. Rio de Janeiro: Pallas, 1975, p. 156.
Alfredo Bosi
“A liturgia cristã européia, na sua vertente mais moderna, protestante, afinava-se, desde o século XVI, pelo tom ascético de um calvinismo avesso a figuras e a gestos e, no limite, refratário a qualquer simbologia que não fosse o verbo descarnado das Escrituras. A relação com o transcendente aí se fazia mediante a leitura direta do texto, a nua palavra da Bíblia, só interrompida, em raros e bem marcados entretempos, pela sóbria entoação do canto sacro: nada mais”
Alfredo Bosi . “Dialética da colonização” . São Paulo, Cia das Letras , 2000, pg. 72
Governo FHC
“… a concentração de renda só fez aumentar nesses quase dez anos de governo Fernando Henrique – governo da elite para a elite , governo de ricos para ricos.”
Marilene Felinto . “Choradeira da elite” in Folha de S. Paulo , 6 /8/2002 , pg. C- 2